As intervenções: títulos e resumos





26.9.19
16h em Lisboa | 12h no Brasil
 MESA 1 | HISTÓRIA E CONHECIMENTO NO ANTROPOCÉNICO



AS MOLÉCULAS DA LIBERDADE: NOTAS SOBRE O NEGACIONISMO CLIMÁTICO


Davide Scarso (FCT | Universidade Nova de Lisboa)


RESUMO: Nesta intervenção iremos apresentar os caracteres gerais do chamado "negacionismo climático" e das principais tentativas de análise crítica desenvolvidas recentemente. A partir da consideração que ignorância e manipulação não explicam a persistência e a difusão do discurso que nega os resultados dos estudos climatológicos, tentaremos aprofundar o seu significado filosófico-político.




A FILOSOFIA, GAGARINE E NÓS

José Luís Câmara Leme (FCT | Universidade Nova de Lisboa)


RESUMO: Poder-se-ia pensar que a filosofia sempre chega tarde demais e que o voo de Gagarine corrobora o dito de Hegel. Poder-se-ia pensar que foi só no século XXI, graças à reflexão sobre o antropoceno, que a filosofia descobriu a importância da exploração espacial. Porém, o dito de Hegel foi invalidado por dois ensaios. Primeiro, em 1961, com o artigo, Heidegger, Gagarine e Nós de Emmanuel Levinas. Depois, em 1963, com a conferência A Conquista do Espaço e a Estatura do Homem, proferida por Hannah Arendt. Estes dois ensaios inauguraram na década de 60 do século XX a reflexão filosófica sobre a exploração espacial. Por que razão o novo crepúsculo obriga-nos a reler esses dois ensaios? 



27.9.19

10h em Lisboa | 6h no Brasil

MESA 2 | CORPOS, TECNOCIÊNCIA E ANTROPOCÉNICO




DOS CORPOS E DA NATUREZA NO ANTROPOCENO_CAPITALOCENO

Ilda Teresa de Castro (ICNOVA | Universidade Nova de Lisboa)


RESUMO: Esta comunicação pensa o corpo do animal, do vegetal e do mineral, o corpo terrestre e o do próprio sujeito, e a interligação entre os vários corpos orgânicos e não-orgânicos do mundo natural em que vivemos. Algumas epistemologias desde sempre procuram a estrutura que liga todas estas coisas. Das cosmogonias indígenas; à Ciência como Filosofia Natural que originalmente nos tempos mais antigos, perspectivava a esfera humana como um microcosmo estruturalmente idêntico ao macrocosmo natural. Da dança entre partes de actuação recíproca de Gregory Bateson; à imagem relacional e de campo-total de Arne Naess; ao Eu, centro e corpo de interacção com o ecossistema, de Paul Shepard. Ligações que a hiper-tecnologia frouxamente simula quando não somente substitui numa auto-identidade relacional. O resgate desse conceito pleno, é inseparável do resgate da Natureza e do mundo como o temos conhecido face às ameaças destes tempos Antropocénicos_Capitalocénicos. Baird Callicott, Donna Haraway, Elisabeth Povinelli, Mary Migdley, Michel Foucault e Pierre Hadot, são alguns outros pensadores que nos acompanham.





INSCREVER A VIOLÊNCIA À CONTRAPELO: NECROPOLÍTICA E TRAUMA NA HISTÓRIA LATINO-AMERICANA


Fábio Feltrin de Souza (Universidade Federal da Fronteira Sul)


RESUMO: Com a profusão do uso do conceito de trauma pelas ciências humanas, em especial pela historiografia preocupada com as questões em torno do testemunho, novos e instigantes itinerários de pesquisa parecem ter emergido nos últimos anos. Entretanto, diversas críticas, operadas na chave pós-colonial e decolonial, têm problematizado a centralidade das experiências europeias, o que limitaria o alcance do conceito a outros contextos, onde as marcas subjetivas dos processos de colonização e formação dos estados nacionais, como no caso latino-americano, parecem ter ficado obliterados e silenciados. Desse modo, o objetivo deste trabalho é examinar os efeitos da chamada “conquista do deserto” argentino, campanha militar orquestrada pelo Estado na segunda metade do século XIX, que dizimou milhares indígenas, à luz dos conceitos de necropolítica e trauma. Para isso, faz-se necessário outra operacionalização do conceito, em chave descentrada, de modo a politizar seu uso e alargar seu alcance, transformando-o numa ferramenta útil para compreender outros contextos de violência coletiva inscrita à contra-pêlo. Assim, pretende-se ler a formação da Argentina como uma comunidade traumatizada, por do descolonizado das categorias.




BOMBADEIRAS DO ANTROPOCÉNICO

Atilio Butturi Junior (Universidade Federal de Santa Catarina)


RESUMO: No trabalho, parto da cisão entre os corpos tecno-vivos sugeridas pro Preciado e a divisão entre as modalidades estéticas e as modalidades médicas de intervenção e de produção de corporeidades racializadas. Tomo, então, como objeto o documentário Bombadeira (2007), descrevendo uma topologia de exclusão, um dispositivo transexualizador e as intersecções entre a raça, a vulnerabilidade social, os dispositivos de segurança e a criação da anormalidade travesti.




14h em Lisboa | 10h no Brasil

 MESA 3 | LÍNGUA NO ANTROPOCÉNICO



DUAS IDEIAS PARA ESTICAR A LÍNGUA DO ANTROPOCENO

Marcelo El Khouri Buzato (Universidade Estadual de Campinas | Unicamp)


RESUMO: Uma implicação importante do Antropoceno (e do pós-humanismo) para os estudos da linguagem é que a perda da excepcionalidade do Humano em relação aos demais seres da "natureza" implica o enfraquecimento posição da língua(gem) como elemento distintivo e hierarquizante entre nós e nossos outros não humanos. Derivada disso, nos é colocada a pergunta sobre como renegociar o conceito de língua(gem) de tal modo a abarcar o modo como os seres humanos e não humanos negociam sentidos no que agora vemos como uma mesma história. Trago para este evento duas ideias que considero promissoras. A primeira, do filósofo e ecologista David Abraham, é a de que nossa língua é a mesma língua dos bichos e das coisas quando nos atemos à sua força expressiva, e não à camada de significados abstratos fixados por convenção na língua saussuriana. A segunda, trazida do materialismo relacional de Bruno Latour, é a de que precisamos de uma língua que nos permita estabelecer um diálogo ético com Gaia. Tal língua seria composta por representações artísticas e sistemas de sensoriamento cibernético capazes de nos afetar emocionalmente e racionalmente. Ilustro com exemplos de pesquisas e textos/imagens compatíveis como essas duas direções.




MULTIVALENT MERCURY: THE BIOPOLITICS OF QUICKSILVER'S HALF-LIVES AND HALF-TRUTHS IN AMAZONIAN GOLD MINES

Ruth Goldstein (University of Califórnia)


ABSTRACT: This presentations examines the motive force of mercury in Peru’s Amazonian region of Madre de Dios. The construction of the Interoceanic Highway and the rise in the price of gold have made it lucrative to mine for gold dust, transformed into a solid via liquid mercury. Mercury, Hermes, or quicksilver has seeped into the psyches of philosophers and emperors, mad-hatters, sushi-eaters and cavity-fillers. For gold miners and indigenous communities, el mercurio represents conflicting ideas about their anthropogenic futures: modernity, magic, poison, or environmental destruction. For gold miners who labor in the mines, the potent neurotoxin is linked to causing uncontrollable anger and violent behavior, but because of mercury’s delayed effects in humans, public health outreach has failed to convey the danger of contamination. On the environment, there is more visibility. Mercury poisons the soil as well as the water systems, killing plants and animals. Yet Mercury is also the Roman god of trade, speed, and communication. Mercury’s multivalent meanings as a: mythological trickster, governing language and economic ventures, a naturally-occurring mineral, and an elemental chemical, complicate simple framings of biopolitics in such anthropogenic landscapes, where the half-life of mercury will outlast other forms of humannonhuman life. 




ON MUSHROOMS AND SURVIVAL IN LANGUAGE STUDIES

Daniel N. Silva (Universidade Federal da Santa Catarina)


ABSTRACT: The anthropocene is a new concept; it was first proposed in geology to highlight the role of the human interference on the planet’s environment and climate – thus, the current geological age is named anthropocene as a reminder of both the human influence on the climate and of its disastrous and worrying effects. Given the degree of the impact of human action on ecosystems – facilitated by the rise of capitalism –, the anthropocene should not, as Eduardo Cohn claims, be considered as “an exclusively human problem.” (p.311) In the face of the contemporary global ecological crisis, anthropologists have thus inquired into alternative ontologies, such as the types of interactions between different species in their quest for survival amidst degradation (Tsing, 2015; Goldstein, 2015) or Amerindian philosophy, which ascribes perspectival knowledge to humans and non-humans (Viveiros de Castro, 2004). In my talk, I will engage with a metaphor of survival in the anthropocene – the Matsutake mushrooms, which establish mutual collaborations with plants in areas degraded by humans – to inquire into ways in which current language studies in Brazil have grappled with different scales of collaboration in responding to the imminent or potential disruptions of political formations, modes of sociability, and ecosystems.





PALESTRA DE ENCERRAMENTO
GEONTOPODER E ANTROPOCENO: POR UMA TEORIA ETNOGRÁFICA DO "TEMPO DAS CATÁSTROFES"

Thiago Cardoso (Universidade Federal da Bahia)


Esta comunicação trata das experiências e formulações ameríndias Amazônicas sobre o "tempo das catástrofes" e da geontopolitica (Elizabeth Polvinelli) que envolve suas relações com as forças antropocênicas (Anna Tsing). Os modelos teóricos dos povos indígenas apontam para a inseparabilidade entre natureza e cultura, ao mesmo tempo em que desenham cartografias das vidas em mundos polvilhados por uma animacidade ou vivacidade generalizada das coisas, plantas, rios, ventos, animais, pedras e das extramundaneidades, que sustentam a terra deste os primórdios. Tais pressupostos geontologicos de uma humanidade/mundo anterior e de socialidades alargadas, dão substrato à escatologias que tracionam uma cosmopolítica indígena desafiadora do geontopoder nos meadros dos fluxos vitais amazônicos, ou dos modos de governança do que é vivo e não-vivo pela maquinaria estatal-industrial-capitalista do/no antropoceno.

Postagens mais visitadas